sábado, 17 de março de 2012

HOME SWEET HOME

Pensei enumerar aqui
todos os meus endereços:
as ruas, as casas, os bairros
o sítio e as cidades mineiras.
Prédios, altos e baixos, áreas
de escape, espaços, córner neutro;
as lojas, os quintais, os bares
e todos os locais de trabalho
que eu freqüentei sem estar ali.
Mas já não me lembrava de
muitos deles – andei tanto e
não saí do estágio em que nasci.
Prefixos de telefones, mapas,
placas de carro, janelas, chaves,
portas, armários, quartos fechados,
as camas e os colchões onde dormi.
Vivi a minha vida sempre assim:
entre quatro paredes pintadas
ora de verde, de branco, de rosa
e infinidades de cores e situações.
Nunca me encontrei em nenhum
desses lugares e o meu lar
não existe sequer em mim.

Uma Escada que Deságua no Silêncio


domingo, 4 de março de 2012

O TRABALHO DOS DIAS




Não posso dizer da vida
e de sua quantia, pois
não tenho como me reportar
a uma experiência anterior.

A vida, em função disto,
talvez seja mais símbolo
e espaço do interdito do
que o vivido propriamente.

Refugia-se em mim, no escuro
do verbo existir, a ausência
de sentido num cotidiano
excessivamente meu e nulo.

Do livro: Inventário de Sombras