REZENDE. Milton Carlos. O ACASO DAS MANHÃS. São Paulo:
Edicon, 1º Ed, 1986.
Após nos fascinar com sua escrita em “Mais uma xícara de café” (Ed.
PENALUX, 2018), Milton Rezende retorna ao nosso blog com mais uma de suas obras
emblemáticas e encantadoras, desta vez o livro é “o acaso das manhãs”,
publicado em 1986 pela Edicon. Em uma narrativa linear – como um conto que
segue uma ordem cronológica – Milton nos convida à conhecer o mundo sensível
dos sentidos aflorados de nosso cotidiano. Em 77 páginas, o autor tece uma
narrativa instigante acerca dos sentimentos humanos, das fraquezas, ilusões, e
sobretudo, da sensibilidade que envolve o existir.
O poema de abertura desta obra foi intitulado de “Noturno”, onde o autor
mostra-nos a fragilidade dos sentimentos que envolvem a existência do homem,
uma vez que, nossos passos são como a vida – ela passa – e inevitavelmente
outros passos cobrirão os nossos e virão sucessivamente, até que se cumpra um
ciclo de caminhadas para rumo algum.
Se Delimitarmos este pequeno espaço
Onde está agora o número 38 de meus pés
É certo não haver convergência de um todo
Pois sou muitos na unidade do nada
E caminhamos divorciados no tempo.
(NOTURNO, p. 09)
Mas é claro que ao abordar a vida de forma tão singela – e sensível – o
autor trabalhou também as questões que envolvem todos os momentos do homem com
relação a sua busca por saciedade:
Um momento cristalizou
Todos os outros momentos
Um momento trouxe à tona
Todos os outros momentos
De uma sublimação dissimulada.
Um momento estabeleceu o paradoxo
Entre o que se quer concretamente
E o que se assume perante a consciência
Para fugir do inevitável.
(UM MOMENTO...TODOS OS MOMENTOS, p. 25)
E por fim, em um dos poemas presentes na página número 46, o autor após
desenhar o perfil do humano como sendo sensível em demasia, decide esclarecer
toda esta complexidade por trás dos sentimentos e arrependimentos que
carregamos, tudo isso em considerações a respeito do homem.
O homens
Não sabem que são homens
Se soubessem, rejeitariam o nome.
(p.46)
É claro e certo que todos nós encontramos uma nova fraqueza e um novo
motivo para desistir a cada amanhecer. E é exatamente sobre isto que esta obra
retrata: Sentimentos que se perdem e pessoas que não se definem como sendo quem
são, afinal, seus sentimentos e sua existência são demasiadamente sensíveis
demais para lhe permitir sentir.
A obra é tão intensa quanto a escrita mais recente do autor na obra
citada no início desta resenha. Um bom poema mantém em si a essência de uma boa
escrita e de um misto de sentimentos. E isto, Rezende nos promove com
eficiência.
FONTE:
https://www.proximoparagrafo.com.br/2018/05/resenha-236-o-acaso-das-manhas-de.html
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