sábado, 26 de novembro de 2011

Entrevista para o Selo Terceira Margem – Ed. Multifoco, concedida ao editor Marcos Vinícius Almeida.

Por que escrever, Milton? Quando começou?
               Porque é imperativo. Creio que essa é uma característica (que alguns chamariam de dom) que já nasce com a pessoa. Comecei a escrever aos 13 anos de idade.

Quais são suas principais influências e de que modo os autores que você lê interferem no seu processo criativo?
               Todo processo criativo implica numa recriação. Cada poema escrito é uma realocação dos elementos que já existiam: significa combinar de uma outra forma e de uma maneira própria as idéias e as palavras que existem desde sempre. Sendo assim, todos os autores lidos interferem de alguma forma no seu fazer poético. Os meus autores preferidos são: Drummond, Fernando Pessoa e Augusto dos Anjos; mas não sei até que ponto eles me influenciaram.        

Como você percebe a evolução ou reestruturação da sua linguagem nessa nova obra em relação as anteriores?
               Parece-me, neste novo livro, que houve alguma reestruturação da minha linguagem no sentido de torná-la mais concisa e evocativa, buscando lembranças da infância e juventude que estavam guardadas na memória. Mas acredito que tenha sido um processo que não deverá se repetir.         

Com a facilidade de publicação que a internet tem proporcionado, nunca houve tantos “poetas” como hoje em dia. Você vê uma saturação desse gênero? Na sua percepção, qual é a relação entre a banalização da poesia, que acarreta esvaziamento de significado e da forma, e o excesso de produção?
               É uma pergunta de difícil resposta. Acho que sempre houve um excesso de “poetas” e a internet possibilita realmente que sejam “jogados” uma quantidade enorme de poemas no espaço cibernético, mas quem os acessa? A dificuldade de publicação e divulgação ainda persiste apesar da democratização dos meios, que é salutar. Mas não entendo isso como uma saturação ou banalização do gênero poesia, pois o tempo (e somente ele) é que define o “quem é quem” no final das contas.

Seu livro remete a elementos muito fortes da cultura mineira, sem se perder no bairrismo; - é do cotidiano que brota a arte?
               A cultura mineira, como todas as culturas, é muito rica e variada. E eu, como mineiro que nunca saiu de Minas, possivelmente reflita este aspecto em minha obra. Mas a verdadeira arte é atemporal e não conhece fronteiras, e reflete tanto o cotidiano como o transcendente.
              
Memória, morte, solidão, infância e a condição de poeta: são alguns temas que nos afetam na leitura de Uma escada que deságua no silêncio. Você dá carne a esses temas através de recursos bem definidos, como enumeração, por exemplo. Como é esse processo de busca do aspecto formal que melhor desvele o sentido de um verso?
               A poesia é muito intuitiva e o conteúdo deve vir antes do aspecto formal. Com o tempo e a prática a gente aprende a utilizar certas técnicas, como a enumeração que você citou e o ritmo, que é fundamental.

Como você escreve? Tem algum ritual?
               Não tem ritual nenhum, embora haja alguns procedimentos e hábitos. Geralmente eu me emociono quando escrevo, dependendo das circunstâncias. E tenho muita revolta e uma necessidade de escrever, de botar pra fora. O silêncio é uma escada para dentro de si mesmo.


O que é poesia, Milton?
               Não creio que se possa definir. Muitos autores já tentaram, ao seu tempo, e conseguiram, sob a ótica deles, uma definição interessante, diferente e igualmente válida. Mas não passavam de exercícios. A poesia sempre escapulia. Acredito que ela esteja situada em qualquer esquina, à beira de um abismo. É preciso saltar para encontrá-la.

Milton Rezende, 2009.

e-mail: milton.rezende@yahoo.com.br

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