terça-feira, 29 de novembro de 2011

opinião

"Sejamos claros: essa dissolução da cultura no todo cultural não acaba com o pensamento nem com a arte. É preciso não ceder ao lamento nostálgico pela idade do ouro, onde as obras-primas existiam aos montes. Velho como o ressentimento, desde suas origens, esse lugar-comum acompanha a vida espiritual da humanidade. O problema com o qual nos confrontamos é diferente e mais grave: as obras existem, mas, uma vez que as fronteiras entre a cultura e o divertimento não são mais claras, não há lugar para acolhê-las e dar-lhes sentido. Elas flutuam, pois, absurdamente, em um espaço sem coordenadas ou balizas. Quando o ódio pela cultura torna-se ele próprio cultural, a vida com o pensamento perde todo significado.
A barbárie acabou por se apoderar da cultura. Na sombra dessa grande palavra a intolerância cresce, ao mesmo tempo que o infantilismo. Quando não é a identidade cultural que encerra o indivíduo em seu domínio, e que, sob pena de alta traição, recusa-lhe o acesso à dúvida, à ironia, à razão -- a tudo que poderia destacá-lo de sua matriz coletiva, é a indústria do lazer, essa criação da época da técnica, que reduz as obras do espírito a quinquilharias (ou como se diz na América, entertainement). E a vida com o pensamento cede suavemente o lugar ao face-a-face terrível e irrisório do fantástico e do zumbi". (Alain Finkielkraut).

Nenhum comentário:

Postar um comentário