O
VELÓRIO
“Dêem-me
coroas de pano.
Dêem-me
as flores de roxo pano,
Angustiosas
flores de pano,
Enormes
coroas maciças,
Como
enormes salva-vidas,
Com
fitas negras pendentes”
(Pedro
Nava)
Eu
estava dormindo quando o caixão chegou.
Acordei
com luzes acesas, ruídos, vozes abafadas.
Levantei
para ir ao banheiro e fui informado do velório.
A
casa estava cheia de gente conhecida e estranhos.
Na
sala o corpo já estava sendo velado e havia velas.
Um
cheiro de morte impregnava o espaço intangível.
O
defunto estava com as mãos cruzadas sobre o peito.
Flores
cobriam todo seu corpo e o rosto estava lívido.
Os
braços eram demasiados magros e cadavéricos.
Encostada
numa parede jazia uma coroa roxa de latão
e
a tampa enorme esperava o momento exato de cobrir
toda
a vivência acumulada naquela vida que já não existia.
Nos
próximos dias estávamos proibidos de ligar a televisão,
de
ouvir música no velho rádio de madeira e a casa fechada.
Sobre
o bolso da camisa foi costurada uma tarja de pano preto.
Milton Rezende, Uma
Escada que Deságua no Silêncio, 2009.
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