Milton,
gostei muito dos poemas desses dois livros que me enviou. Eles me evocaram
constantemente dois autores geniais: Baudelaire e Augusto dos Anjos, embora
sejam totalmente pessoais. A presença constante da chuva fica pro francês, que
chega a ver nela as barras de uma vasta prisão, onde
l'Espoir,
Vaincu, pleure, et l'Angoisse atroce, despotique,
Sur mon crâne incliné plante son drapeau noir
Vaincu, pleure, et l'Angoisse atroce, despotique,
Sur mon crâne incliné plante son drapeau noir
Em
Passagem das Horas você diz:
Fica de
nós este resíduo
do que
ainda não fomos.
Isso, que
já é muito bom, fica mais preciso em SER:
O que sou
é este vazio em mim.
Trágico
& Cômico é contundente:
Encenei
para mim mesmo uma tragicomédia
na qual
sou o único personagem,
e o
teatro em que represento
não é
frequentado pelos homens.
O tema é
reiterado, com mais força ainda, em EX-100:
Sinto que
estou exposto inteiro
para uma
vitrine frequentada por cegos.
Em Ciclo,
a desilusão é total:
A vida
(...) hipnotiza a todos
para que
não vejam seus truques falhos.
Se há
muita chuva em seus versos, os melhores deles, pareceu-me, estão em Aguaceiro:
A chuva cessou
de chover
e agora
eu posso
tirar as
mãos dos bolsos
e
atravessar a rua.
Mas já
não tenho mãos
e nem
tampouco posso
atravessar
esta rua, pois
a água
levou-me as pernas.
E a rua,
embora chovida, está seca.
Eu fui a
chuva que choveu e ninguém viu.
Os poemas
que me pareceram mais completos e perfeitos:
Auto-retrato
II, Duplicidade , o kafkiano Uma Vítima sem defesa e Avaliação Noturna
De tudo
me fica a impressão de um poeta. De um autor que sabe exatamente o que é
Poesia.
--
WJ Solha
WJ Solha
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