quinta-feira, 1 de maio de 2014

ÍMOLA


Eu vejo a morte
deslizar sua sombra
discreta pelos boxes
da Fórmula 1, sem
que a percebam.

Na véspera,
eu a vejo checar
cada componente
e inscrever neles
o seu desígnio.

Eu vejo a morte
perfilar-se junto
ao grid de largada
no circuito da Itália,
e ali sendo aceita.

No instante seguinte
eu a vejo fluir
sobre o cockpit
e se postar com a foice
na lateral do muro.

Eu vejo a morte
(que todos afinal viram)
nas imagens concretas dos
destroços que explodiam
nas telas de todo o mundo.

Depois eu a vejo
como uma sombra esquálida
que se retirava de (S)cena, 
deixando o espetáculo para
os protagonistas vivos.

Milton Rezende, "A Sentinela em Fuga e Outras Ausências", 2011

 




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